Quero aplicar a miña ciencia á lingua para pintar a face do noso maior ben colectivo: o galego







martes, 13 de marzo de 2012

Valentim Fagim: 'Vivemos um processo de substituiçom linguística mui avançado'

Marcos Pérez Pena entrevista a Valentim Fagim, presidente da AGAL, para Praza (nesta ligazón contén audio):
Valentim R. Fagim preside desde 2009 a Associaçom Galega de Língua (AGAL), que o passado ano completou três décadas. É autor de obras didáticas como Do Ñ para o NH, Manual de língua para transitar do galego-castelhano para o galego-português, e o trabalho que desenvolve, pessoalmente e no seio da associaçom, consiste em mostrar aos galegos e as galegas que a língua da Galiza é a mesma que fala Lula da Silva. Esta será a década do Brasil, país que nom deixa de crescer economicamente e de ganhar peso internacional e que organizará, dentro de dous anos, o Mundial de Futebol e em 2016 os Jogos Olímpicos. Fagim pensa que a Galiza nom pode desaproveitar a oportunidade que lhe oferece a sua pertença ao mesmo espaço linguístico que o gigante brasileiro.
Como valoras a situaçom da língua hoje em dia?
Vivemos um processo de substituiçom linguística mui avançado. Isto é tam simples de constatar como ir a um parque, por exemplo na cidade de Santiago, e escutarmos a língua dos avós -que falam 90% em galego- e a língua das crianças -que falam 90% em castelhano-. Em Vigo os avós já nom falam 90% em galego. Por outra parte, cada nova geraçom fala um galego cada vez mais misturado com o castelhano. A minha avó, por exemplo, diz balor, a minha mai já dizia moho, e a mim chegou-me moho. Isto vemo-lo todos, nom fai falta ser um especialista.
No processo de normalizaçom deram-se passos nos usos institucionalizados do galego, e num certo prestígio da língua, mas fracassou na normalizaçom dos usos reais, no quotidiano?
O cidadao meio nom vê o galego como umha necessidade. Pode haver umha opiniom favorável sobre a língua, umha maioria dirá nos inquéritos que há que apoiar a língua, mas de apoiar a usar há um distáncia considerável. A maioria da cidadania, sobretudo os mais novos, nom veem o galego como algo que tenha que fazer parte das suas vidas.
Estamos desaproveitando o facto de pertencer a um espaço linguístico partilhado com Portugal, Angola, e sobretudo Brasil? Em que medida o facto de que o galego fosse umha língua universal ajudaria a que as pessoas a vissem como língua de inovaçom, de futuro, de prestígio?
Um dos piores dias para a língua galega tivo lugar em 1982 quando o Parlamento galego, com maioria de Alianza Popular, aprova umha nova norma oficial em detrimento de outra que havia antes, que era praticamente igual, do ponto de vista formal. A diferença fundamental foi que a nova norma mandou toda a lusofonia para um baú, porque na norma de 80 tinha-se umha conceçom de que o galego se falava em todos os continentes. Levamos trinta geraçons de galegos e galegas sendo educadas em que o galego só se fala na Galiza e que Portugal, o Brasil ou Angola nom nos interessam, nom tenhem que ver connosco. Estamos a perder a possibilidade de que os galegos sintam que falam umha língua internacional, que sintam que Mourinho ou Lula da Silva partilham com eles a língua.
Sempre se afirma aquilo de que se cataláns ou bascos tivessem esta oportunidade, pegavam nela. A diferença é que em Euskadi ou na Catalunya os governos e as sociedades som nacionalmente bascas e cataláns. Neste sentido nós somos mui fracos: a sociedade galega nom é nacional-galega e também nom o foi nenhum governo. A escolha da norma ILG-RAG é um sintoma de que somos fracos política e culturalmente.
O Brasil está em expansom e será protagonista nos próximos anos em todo o planeta. As próprias empresas espanholas e galegas estám a empregar o argumento de que os galegos falamos português para melhorar as suas opçons comerciais naquele país. A situaçom está a mudar, obrigada pola realidade?
Começa-se a dar o caso de que empresários, que nunca vírom o galego com interesse, agora começam a ter a visom de que falamos a mesma língua que o Brasil. E essa perspetiva dá-se mais, às vezes, em pessoas que nom falam galego do que em ativistas linguísticos. Tenho um amigo empresário, Pichel Campos, que afirma que o tema do português vai entrar polas empresas, nom vai ser pola açom do galeguismo. As empresas espanholas que necessitam enviar quadros a Brasil ou Angola já estám a optar por galegos.
Qual é o perfil das pessoas que na Galiza estudam português, por exemplo na Escola Oficial de Idiomas?
Em Ourense, quando se conseguiu que se desse português, de sessenta alunos, se calhar quarenta eram reintegracionistas. Afinal fora o MDL, Movimento de Defesa da Língua, quem orquestrara umha campanha para o conseguir. Isto mudou muito. Hoje em dia, de umha turma de trinta pessoas, a imensa maioria está ali por questons práticas, de trabalho, ou por questões culturais, ou de amizades. Segundo avançam as aulas, descobrem que estám a estudar a língua da Galiza. E quando começarem as olimpíadas e o mundial de futebol, o Brasil vai estar na onda o tempo todo, e o número das pessoas que queiram melhorar os seu português vai-se disparar, porque a sensaçom é: isto é fácil, isto está ao meu alcance.
Entre as pessoas contrárias ao reintegracionismo incide-se muito na necessidade de que o galego continue a ser umha língua independente e alertam da possibilidade de serem assimilados polo português. É umha crítica que fixo, por exemplo, Xosé Luís Méndez Ferrín. Como valoras isto?
A questom é se, por partilhar umha língua com Portugal e Brasil, deixamos de ter umha língua. Todo ao contrário, temos umha língua universal. Essa crítica de Ferrín e outras pessoas parte de um esquema de nacionalismo mal entendido ou de nacionalismo um bocado infantil: um país, umha língua. Os Estados Unidos da América e a Gram-Bretanha partilham língua e tenhem língua própria; o Brasil e Portugal partilham língua e tenhem língua própria. Em ambos os casos falamos de países de tamanhos mui diferentes entre si.
O tema é mais simples: tu e mais eu estamos a falar da mesma maneira, falamos a mesma língua, mas escrevemos de forma diferente. O que há que perguntar-se é: que é o que leva a um de nós a escrever de umha maneira e a outro a escrever de outra? E há que perguntar-se qual das duas formas é a mais interessante para deter a substituiçom linguística do castelhano e a sua castelhanizaçom. Aí entramos na questom da estratégia e acho que é mais útil a que promove o reintegracionismo que a que promove o diferencialismo. Seja como for, é fundamental ter respeito polos argumentos da outra pessoa. Se entramos em esquemas essencialistas de tu és um traidor ou tés auto-ódio, tanto de um lado como do outro, nom há forma de dialogar, essas atitudes som quase religiosas e a teologia nom entende de argumentos.
Outra crítica ao reintegracionismo pode vir pela forma em que a sociedade poderia receber umha mudança de normativa ou umha norma com a que nom estám acostumados, mais diferente do castelhano. Poderia prejudicar o uso social da língua?
Nestes debates costuma pensar-se em termos de eu ganho, tu perdes, quando o que haveria que fazer seria achar formas em que todos ganhemos. Eu nom falo de eliminar a norma ILG/RAG, porque há muitas pessoas que acreditam nela e sentem-se cómodas nessa identidade linguística. O que seria um passo adiante seria integrar todas as pessoas que queremos que a língua da Galiza seja a língua socialmente hegemónica. Haveria que encontrar a fórmula de implementar as duas estratégias. Algumhas medidas de eu ganho, tu ganhas seriam: que nas salas de aulas de galego se ensine português de Portugal ou do Brasil ou português como língua estrangeira ou que na TVG saiam vozes com outros sotaques lusófonos. Se temos claro que vamos transitar por aí, que queremos aproveitar essa oportunidade, há apenas que planificar, e implementar medidas gradualmente. O esquema é formar e informar, mas levamos trinta anos escondendo essa realidade. A imensa maioria dos galegos nom som sabedores de que tenhem esta riqueza e aí perdemos todos.
Há 15 dias dizia Monteagudo em Praza eu estou encantado de pertencer à lusofonia, mas sempre que me aceitem como galego...
Nom se pode entrar na lusofonia com umha ortografía que nom é lusófona, isso é umha contradiçom e ainda menos com o ortografia da língua que está a substituir a nossa. Além disso, nessa declaraçom está implícita a ideia de que o galego certo é o seu. O resto que é entom?
Como nos veem em Portugal e Brasil, tanto as elites como o cidadao médio?
Algumhas elites conhecem a nossa realidade, sabem que existimos. O cidadao médio nom, nom sabe que existimos. Isto está relacionado com a educaçom. A maioria dos portugueses e brasileiros pensam que a sua língua nasceu em Portugal, quando nasceu na Galiza. Acontece que os galegos levamos décadas enviando-lhes mensagens contraditórias. Quando houvera aquela campanha para que as tradiçons orais galego-portuguesas fossem reconhecidas pola UNESCO como património imaterial, Manuel Fraga foi ao Porto apoiar a iniciativa e como presidente da Galiza falou em espanhol. Assim é impossível. Por muito que fizermos, nom podemos convencer a um português médio de que aqui falamos a mesma língua quando o nosso presidente lhes fala em espanhol, ou num formato de portunhol como fazia o presidente Touriño. Esse reconhecimento mútuo tem de ser construído entre todos.

Está faltando decisons nas editoras, discográficas, produtoras cinematográficas galegas para explorar o espaço lusófono desde Galiza?
O tema do livro é o mais complicado porque estamos a falar de registo escrito e com um formato de galego com ortografia castelhana nom dá. Outro tema é a música, com a música nom há fronteiras e funcionam conceitos que nom funcionam a nível intelectual. Isso vê-se perfeitamente em Cantos na Maré, músicos da Lusofonia a usarem no palco diferentes sotaques é recebido com naturalidade polo público. A música está a ser a ponta de lança para as pessoas tomarem consciência de que a sua língua é mundial. Aline, Uxía Senlle, Fred Martins ou Ugia Pedreira chegam à gente de umha maneira que outros nom conseguimos chegar, com discursos sisudos.

Ou Michel Teló...
Com certeza, é espetacular o que se passa com a música. O fenómeno da Cabritinha demonstra que ainda há esperança. A Cabritinha nom era conhecida em Madrid, porque as pessoas nom a entendiam, havia um obstáculo linguístico e cultural, mas na Galiza arrasou porque nós a percebíamos. Enquanto tenhamos essas diferenças culturais com Madrid, existiremos. Quando tudo seja exatamente igual, já nom existiremos.

TRINTA ANOS DE AGALVem de pôr-se em marcha Semente, umha iniciativa que ademais tu puseste em valor contrapondo ao argumento de 'dentro de vinte anos'...
Esse mantra de dentro de vinte anos é terrível, entre outras cousas porque já tem trinta anos, o que é umha mostra de que foi idealizado para ser eterno. A chave é que nessa disjuntiva entre 'agora nom é o momento, melhor aguardar' e fazê-lo agora, há que apostar por atuar agora, porque nom temos tempo. Nom há dados de 2012, mas quantos crianças de menos de dez anos falam galego? 10%? nom podemos estar aguardando a nom se sabe quê. O que nom funciona, nom funciona. E o que nom sabemos se funciona há que experimentá-lo. Eu trabalho para que a situaçom da língua dentro de quarenta anos seja melhor do que agora, e para isso há que fazer Semente, Lusofonia, há que unir. Jogar ao 'orgulhosamente sós' nom funciona, e leva trinta anos sem funcionar.
Há passos adiante, como que os dicionários portugueses comecem a recolher palavras que só se usam na Galiza, graças às gestons da Academia Galega da Língua Portuguesa...
É umha mostra de que há porta abertas em Portugal, o que há que fazer é bater nelas. Esse argumento de que em Portugal nom nos entendem, nom é real. Onde há muros podem aparecer janelas mas há que as procurar.
A AGAL completou trinta anos, sem deixar de crescer e de ganhar influência, e sempre sem ajudas públicas, partindo da base da sociedade civil...
Nom somos dependentes das subvençons, mas nós queremos receber ajudas em igualdade de condiçons com qualquer outra associaçom. A nossa estratégia é criar umha série de produtos auto-sustentáveis, como os ateliês para o ensino obrigatório, caso dos Ops e os Cacimbo, cursos de verao no Porto... Este mês vamos lançar dous cursos online, um de expressom escrita em norma Agal e outro de Português do Brasil direcionado a galegos e galegas. Enfim, fazer.
Dá a impressom de que AGAL evoluiu de umha primeira etapa mais professoral, mais centrada na sociolingüística, a umha etapa atual, mais social, mais centrada em incidir diretamente na sociedade. Esse processo foi consciente?
Nom tenho a certeza, mas é provável que na primeira AGAL 80% dos sócios e sócias fossem docentes. Atualmente, entre os novos sócios e sócias, quase nenhum é professor. Entre os mais recentes associados temos um bombeiro, um assistente social, umha enfermeira, um empresário... Para chegar à sociedade há que fazer parte da sociedade. Se todos somos professores, nom chegamos.
Dá a impressom de que a fenda que separava os galego-falantes que empregavam a norma ILG/RAG e os que apostavam no reintegracionismo se vai fazendo mais estreita. Estás de acordo?
Há umha maior compreensom dos argumentos do reintegracionismo, da estratégia luso-brasileira-angolana que diria a Aline Frazão, ainda que continuamos a ser um movimento periférico. O reintegracionismo, e aqui faço autocrítica, nom foi capaz de criar muitos materiais didáticos e populares. Há alguns, com certeza, mas mui por debaixo dos que seriam preciso. Temos, é claro, muito bons materiais académicos mas a chave é comunicar. Acho que se somos capazes de comunicar, os nossos argumentos som tam fortes, que a sua divulgaçom será mui simples.

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