Quero aplicar a miña ciencia á lingua para pintar a face do noso maior ben colectivo: o galego







mércores, 19 de outubro de 2022

Sinais obscenos de esmorecimento

 


por Carlos Garrido no Nós Diario:

Nas condiçons em que o galego chegou ao decénio de 1980 –muito precárias polo que ao seu corpus, status e prestígio social di respeito–, só a execuçom resoluta por parte da administraçom de um programa de regeneraçom lingüística que, com inteligência e convicçom, abordasse eficazmente cada um desses ámbitos deficitários –e do qual, de forma indispensável, deveria fazer parte essencial um reintegracionismo conseqüente– teria tido algumha oportunidade real de conseguir para a nossa língua na Galiza um estado próximo da normalidade cultural. Na ausência de tal programa e praxe, governada desde entom a Galiza por partidos do nacionalismo espanhol que, no máximo, fam concessons lingüístico-culturais a um regionalismo inócuo, etnográfico, o gal., hoje, continua a padecer enormes défices no seu corpus, no seu status e no seu prestígio social efetivo. Agora, no segundo decénio do séc. XXI, como conseqüência de esse gal. concorrer no seu território com o potente castelhano –eficazmente promovido polo Estado–, a nossa língua caminha com passos certos para umha próxima extinçom social, dizimada no número de utentes novos, menorizada pola sua formalizaçom isolacionista e sem prestígio comunitário efetivo. Se o gal. fosse um edifício, agora estaria a piques de ruir; se fosse um doente, estaria à beira da morte. Os desastres arquitetónico e sanitário seriam inassumíveis para a administraçom, mas o poder autonómico nom está preocupado com o abrupto declínio do gal.: para ele, é lei natural, de modo que o combate entre o competidor caquético e o competidor robusto deve continuar sem efetiva intervençom do árbitro político.

 

Nesta linha, e para arrancar da tranqüilidade aqueles amigos do gal. que, na sua ingenuidade, ainda pudessem acreditar numha fácil recuperaçom social da língua, queria aduzir aqui dous casos que, de forma obscena, patenteiam a grave falta de prestígio que o gal., a acompanhar a praxe política descrita, continua a sofrer hoje. Sinais obscenos porquanto partem de situaçons em que estám envolvidos interesses económicos ou o estatuto socioprofissional das pessoas, os quais, é claro, nom devem ser postos em risco, e com os quais nom se pode brincar. O primeiro destes sinais obscenos pode ser qualificado de mutilaçom vocabular institucional e é emitido por diversas entidades galegas que, fingindo utilizar a nossa língua, e aplicando um leito de Procusto lexical, nos seus emblemas substituem as palavras galegas por castelhanas quando aquelas diferem substancialmente destas. É descoroçoador que, p. ex., as denom. das indicaçons geogr. proteg. da Galiza, como Ternera Gallega, sejam em cast., mas, sem dúvida, muito mais graves, por insidiosos, som casos como os do selo [Leite] Ga(l)lega 100% (por Galego 100%), do Clúster da Pizarra de Galicia (mesmo que nom use o termo técnico ardósia, polo menos devia utilizar o popular lousa), da Festa da Merluza do Pincho de Celeiro (se *pincho 'espinho', em referência ao anzol, é cedência ao cast. [pincho em gal. denota 'salto'], nom utilizar aqui pescada é traiçom!) ou da Festa do Pulpo do Carballiño. Aí, a palavra galega genuína, polb[v]o, colidiria com o cast. polvo 'pó/coito', mas, ao mesmo tempo, nengumha instituiçom galega levantou objeçom efetiva à circunstáncia de um carro ser comercializado na Galiza com o indecente nome de Kona (Kauai em Portugal)!

 

Um segundo sinal obsceno da falta de prestígio social da nossa língua na Galiza atual, qualificável como enjeitamento comunitário, é constituído polos habituais dados de matrícula inicial nas combinatórias lingüísticas da graduaçom em Traduçom e Interpretaçom da UVigo. Assim, na pré-matrícula para este ano letivo, na comb. inglês-cast., inscrevêrom-se 120 pessoas, para 60 lugares oferecidos, enquanto que na comb. ingl.-gal., para 40 lugares disponíveis, apenas surgírom 4 voluntários (!). Nem razons románticas (fidelidade à língua do país), nem razons de inteligência prática (formar-se em gal. tb. capacita para trabalhar em cast. e em port.), pudérom evitar aqui um brutal desprezo do gal. Neste ponto, fago constar o meu afeto àqueles alunos, poucos mas brilhantes, que, apesar de terem obtido boas classificaçons no secundário, escolhêrom fazer o curso de Trad. com o gal. como língua de chegada principal.

Ningún comentario:

Publicar un comentario