Quero aplicar a miña ciencia á lingua para pintar a face do noso maior ben colectivo: o galego







domingo, 25 de decembro de 2011

A língua de Consuelo

por Valentim R. Fagim, en Sermos Galiza:

É comum afirmar-se que as fronteiras mais antigas da Europa são as existentes entre a Espanha e Portugal e que estas viriam a ser “quase” inalteráveis desde a idade média. Esse “quase” transparenta pequenos movimentos de fronteira que provocaram a criação de ilhas lusófonas no Reino de Espanha, algumas das quais chegaram até os nossos dias. Em 2009, três investigadores galegos, reunidos no coletivo glu-glu, decidiram visitar essas ínsulas para conversar e gravar as pessoas que ali moram e ainda falam português. Esse trabalho transformou-se num documentário, de nome Entre Línguas, que recentemente foi disponibilizado na Net.Subim ao youtube um dos vídeos que mais me impactou e que aparecem nos extras. Nele entrevistam uma mulher idosa, de nome Consuelo, e que nasceu e mora em Almedilha, província de Salamanca.
 Animo o leitor, a leitora, a visionar o vídeo, sobretudo entre os minutos 3:30 e 5:00 e que repare em dous aspetos: como fala a Consuelo? Que fala, que nos está a contar?

 A respeito da forma, de como fala, reparamos que o seu “português” recolhe fenómenos fonéticos (a gheada) e palavras (bueno) que não existem em nenhuma variante de português de Portugal. De facto, se eu não tivesse advertido do caráter lusófono da Consuelo, todas nós coincidiríamos em que a simpática mulher é galega e o debate divagaria, talvez, em volta do seu lugar de procedência. Ora, talvez algum de vós desconfiasse da sua galeguidade polo uso de palavras que na Galiza só usam os ditos reintegracionistas, como Notas em lugar da forma castelhana Billetes para se referir ao dinheiro em formato de papel. Ora, mais interessante ainda do como é, é o que ela diz. Ela afirma que sempre fala português e que quando vai a Coimbra, à Guarda, a Santiago de Compostela ela não muda o seu registo… porque, afinal, nesses lugares também falam português. Na verdade, o silogismo é simples. Se eu falo X nos lugares Z, Y e G, e eles respondem-me no que eu falo, nesses lugares também falam X. Portanto, os galegos falamos português. É duma simplicidade maravilhosa. Na Galiza temos tendência a decalcar a fronteira política sobre a linguística tornando a nossa língua mais pequena e fraca, com os resultados que todas sabemos e sem saber mui bem que ganhamos com isso. A Consuelo não transita por aí porque ela tem uma vantagem sobre todas nós: não passou polo sistema educativo galego.

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