Quero aplicar a miña ciencia á lingua para pintar a face do noso maior ben colectivo: o galego







mércores, 18 de maio de 2016

Conflito lingüístico

por Ramón Varela Puñal, no Sermos Galiza:

Alá pelos anos 80 do século XX costumava-se afirmar que o problema lingüístico de países como Galiza, Euskadi e Catalunya era um problema de diglossia, ou seja, de desnível entre duas línguas numa determinada coletividade: a língua A, que é a língua de prestígio, de poder, a língua na que se leciona o ensino, a língua que se utiliza em contextos formais e mais solenes; e a língua B, a língua íntima, familiar, a língua que se emprega em contextos informais, como nas relações com a família ou os amigos, a língua desvalorizada entre os utentes dessa língua. Distinguir-se-ia-se do bilingüismo em que neste se utilizariam as duas línguas com um nível semelhante de competência para todas as funções. A solução pregoada e implantada, formalmente, em países submetidos, como o nosso, foi o bilingüismo, que, além de teoria lingüística de equilíbrio das línguas, é uma ideologia ao serviço do poder de turno para poder assimilar mais facilmente a língua dos povos com factos diferenciais que não foram capazes de borrar por meio da repressão, que no caso de Galiza dura já mais de 500 anos. Agora pretendesse conseguir o mesmo objetivo por meio do sistema democrático e prevalendo-se da grande potência dos meios de comunicação de massas, que espalham os usos e costumes dominantes e afogam a diversidade e a diferença.


Uma vez implantado o sistema autonômico muitos consideraram que a situação da Galiza não era de diglossia, senão que cumpria falar de conflito lingüístico. Considero que em nenhuma comunidade existe uma situação realmente bilíngüe, porque se bem é possível, pelo menos aproximadamente a nível individual, a nível comunitário, nunca se chegam a conhecer duas línguas com o mesmo nível de competência, embora si que é possível possuir uma língua própria, com a qual a comunidade se identifica realmente, e outra língua conhecida por grande parte da população que se utiliza para o intercâmbio com os utentes doutras línguas, como pode ser na atualidade o inglês. Penso que não procede enterrar o conceito de diglossia, porque ainda que é certo que o galego e o espanhol se utilizam ambos em contextos formais, porém o galego continua a sofrer uma desvalorização social, que é o que faz que, apesar de que na atualidade todos os galegos têm o direito de conhecê-lo e falá-lo, segue mesmo a perder falantes e a escola continua sendo um instrumento de desgaleguização. Isto agrava-se com as campanhas de desprestígio do galego por parte nada menos que do governo da Galiza que deveria ser quem o impulsasse e normalizasse, e na falta duma forte reação da sociedade galega ante os aberrantes inquéritos feitos aos pais para que decidissem qual deveria ser a língua de transmissão do ensino. Se o galego estivesse igual de prestigiado que o espanhol, os galegos optariam por ele mui majoritariamente como língua de uso em todos os níveis de ensino, porque nenhum povo com auto-estima se suicida voluntariamente numa situação normal.

Quando falamos de conflito lingüístico cumpre é ter bem claro quê é o que queremos dizer. Falar de conflito de línguas em si não tem sentido. As línguas são sistemas de comunicação abstratos e como tais não lutam entre si, senão que os que lutam são os seres reais e concretos. Se queremos compreender a realidade temos que superar, por tanto, as abstrações mentais e baixar ás cousas concretas. Se as línguas não lutam entre sim não fica mais que atribuir esta pugna aos utentes das línguas, aos indivíduos reais e concretos. Os partidários da substituição do galego pelo espanhol mantêm uma atitude beligerante e põem em prática umas políticas que tem como finalidade conseguir uma situação de domínio do espanhol, incluso muitas vezes recorrendo a certos mecanismos, convenientemente deturpados, do sistema democrático, como foi o caso do recurso á liberdade individual no caso do Governo galego. Nesta deriva são ajudados, consciente ou inconscientemente, pela maioria conformista, muitas vezes desconhecedora do problema e convenientemente manipulada.

Dizia Carlos Marx que os obreiros não têm pátria, e, por tanto, o que cumpre é conseguir uma sociedade mundial regida pela classe obreira. Um dos corolários desta posição é que os trabalhadores unidos nesta sociedade global compartem também os seus valores, usos e costumes e entre eles a mesma língua. Isto explica que Carlos Marx não soube dar uma resposta ao problema dos povos que lutam pela sua liberdade. Com todo, o êxito do sistema marxista foi muito limitado e hoje não é um ideal estimulante pelo qual lutar tendo em conta o fracasso dos chamados países de democracia popular. Hoje o problema vem mais bem pelo campo oposto, pelo sistema oligárquico. Em tempos de Marx, a oligarquia contentava-se com dominar no mercado nacional e impor nele o uniformismo social, mas hoje considera que lhe queda reduzido e pregoa a abolição de todo tipo de barreiras: aduaneiras, legislativas, lingüísticas,... e todo ad maiorem pecuniae gloriam, para a maior glória do capital. Dizíamos num livro escrito no ano 1980, que “A língua está intimamente ligada ás relações de produção. Um sistema que defenda o expansionismo socioeconômico tenderá também a defender o expansionismo lingüístico”. Hoje, o maior inimigo para a supervivência das línguas minoradas é a oligarquia imperante que ameaça com borrar as diferenças de língua, cultura, bem-estar, sistemas de produção diferenciados, etc.
Neste labor de destruição do próprio e identitário, os inimigos da própria língua são ajudados por aqueles pseudo-nacionalistas que acomodam a sua praxe lingüística ao seu interlocutor, e isto seria legítimo se este fosse estrangeiro ou não pudesse seguir uma conversação em galego, mas não com os que praticam, consciente ou inconscientemente, a praxe assimilacionista. Mas há que quedar bem visto e parecer dialogante e tolerante com os assimiladores, até chegar a compartir com eles que a política lingüística do galego é cousa de liberdade e querença individuais.

Creio que são desacertadas também, em muitos casos, as respostas ao discurso da imposição do galego, e não deixa de ser curioso que não se contra-reste este discurso quando o idioma que está imposto, com todas as da lei, incluída a Constituição Espanhola, é precisamente o espanhol. As línguas devem poder impor-se se for preciso para a sua supervivência, mas impor-se não significa outra cousa senão que os representantes dum povo com língua própria devem poder legislar também sobre ela sem interferências alheias de nenhuma classe. Agora muitos espanholistas estão defendendo uma espécie de diglossia do espanhol a respeito do inglês, política que considero totalmente desacertada, que pode obrigar nalgum momento a que haja que tomar medidas para protegê-lo aqui na própria Espanha, e considero que é mui legítimo facê-lo. Isto mesmo aplico-o ao galego.
Os inimigos do próprio e diferencial consideram que têm um problema com o discurso identitário, e toda a sua teima está a ser precisamente deslegitimar este discurso. Ante esta embate muitos nacionalistas parece que adotam uma atitude timorata e de retirada, para falar mais bem dum nacionalismo inclusivo, um nacionalismo de cidadãos, mas este nacionalismo não é nada se prescinde do facto diferencial, se prescinde dos sinais de identidade. Evidentemente que os protagonistas do devir dum povo são os cidadãos, e não uma enteléquia como o território, mas os cidadãos como indivíduos isolados são abstrações, pois os indivíduos são o que são enquanto atores sociais comunitários. Aliás, batem-se em retirada ante um interlocutor que defende nada menos que como sinal identitária a morte e sofrimento para deleite público dos touros numa praça repleta de vozes que ensalçam o sangue derramado por uma boa estocada a um animal a piques de expirar.

É conveniente e necessário não conformar-se com o protagonismo partidário, sem dúvida valioso e importante neste momento histórico, mas insuficiente, e incrementar o protagonismo dos cidadãos e dos grupos e associações em prol da normalização do idioma próprio com objeto de demandar a implementação das medidas necessárias e suficientes para que o galego tenha um uso normal na nossa sociedade. Uma língua não é somente um instrumento de comunicação, intercambiável por qualquer outro, pois neste caso bastava-nos com o idioma universal dos cães, senão que é também o resultado do labor criativo dum povo para fazer frente ás suas necessidades materiais e espirituais; é o maior sinal de identidade coletiva, que reflete a nossa personalidade própria; é a língua que melhor expressa os nossos avatares históricos, a nossa psicologia coletiva e a nossa cosmovisão; em resumidas contas, a língua galega é a Galiza profunda e imorredoira.

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