por Xosé Carlos Morell no Praza Pública:
Não suporto as ratas. Odeio a sua insolência de aparecerem no meu limpo mundo desafiantes, e sobre tudo acusadoras: "olha, tu que tão orgulhado estás de morares num lugar asséptico e mesmo radiante, tens baixo de ti o sumidouro das tuas defecações: as que esqueces quando puxas do autoclismo. As ratas são a consciência acusadora de que o meu mundo não é tão limpo. De que há cloacas, ainda que eu não as queira ver.
Quando apareceu na Galiza esse fenômeno tóxico de uma organização chamada "bilíngue", mas devotada à destruição e desaparição do galego, da sua eliminação dos âmbitos nos que com tanto trabalho e sacrifício fora introduzido, a sensação foi a mesma. A Galiza não era o lugar sonhado.
Todos os consensos construídos entorno ao idioma caíram porque tinham um ponto débil, um talão de Aquiles: o da utilidade. Sabíamos que tínhamos que amar o nosso idioma porque era nosso, mas esquecemos que, como todos os idiomas, o galego também deve ter uma utilidade: individual para além dumas oposições à função pública; e uma utilidade colectiva para além da identidade. Esquecemos que especialmente era importante o para quê. E esse lugar foi ocupado por outro idioma, fazendo cair o precário consenso como um castelo de naipes.
A nossa geração fora capaz de construir um acordo entorno ao idioma: o galego foi abraçado por todas as ideologias, incluso por aquelas que não têm na sua agenda a dignificação do mesmo.
A direita aceitou o galego como parte necessária nas instituições. A esquerda teve o valor e a coragem de considerar que o idioma devia estar por cima dos seus programas e ainda mesmo do seu ideal de pais, e ser também língua do empresariado, da igreja... Mas quando o galego foi instalado nos novos âmbitos de uso, oficializado e ensinado, esquecemos que ainda restava a parte pendente: a mais importante.
As instituições culturais galegas ficaram mais pendentes de conservarem as conquistas realizadas que de completarem o trabalho de dignificação do idioma com base na realidade científica e histórica, aproveitando as oportunidades que esta realidade fornece. Converteram porém a tábua de salvação que supunha a estrutura institucional numa tábua de ferro que nos afundia.
A sociedade galega foi levada polo caminho do País Valencià, e as consequências não podiam ser diferentes. Arrancado do tronco linguístico comum, procurando uma identidade diferente ao da nossa família lingüística, e um projeto de País radializado desde Madrid, a queda foi para o idioma, que perdeu tanto em qualidade como em projeção, empobrecendo Galiza e porém o Estado espanhol.
É urgente que as pessoas mais honestas das instituições culturais galegas tenham o valor de se unirem ao novo consenso que nasceu diretamente do povo em forma de iniciativa legislativa e logo Lei Paz Andrade. É urgente recuperar o caminho que começaram a andar Castelao, Otero Pedrayo e todas as referências históricas do País. O ensino da nossa norma internacional (para quem quiser vê-lo assim, dum idioma próximo) só pode ser uma vantagem, uma riqueza e uma oportunidade. De igual maneira a recepção de programação de tevê e rádio portuguesas, e as relações internacionais com a comunidade de países de língua portuguesa.
Para além de acolher a assinatura dum memorando entre representantes do governo galego e português, as instituições culturais galegas têm mostrado um eloquente silêncio durante o ano que vai da aprovação da Lei, do qual é possível que o governo tomasse nota para justificar um ritmo lento no desenvolvimento da mesma.
O nosso País e o nosso idioma perderam muitas oportunidades no caminho. Corresponderá aos partidos da oposição valorar e julgar o labor deste governo durante o ano percorrido, tal e como assinala o texto da Lei. Mas de novo deve ser a sociedade civil a que levante a iniciativa para que o novo consenso possível seja uma realidade.
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