Quero aplicar a miña ciencia á lingua para pintar a face do noso maior ben colectivo: o galego







domingo, 23 de outubro de 2011

Contra a normalizaçom

por Isaac Lourido, en Novas da Galiza nº 106, tirado de Diario da liberdade:


A ideia de normalizaçom tem estado presente na maior parte dos debates sobre a identidade e a cultura galegas nas últimas três décadas. Assim, é mui freqüente ouvir falar na necessidade e no desejo de normalizar a língua galega, de viver numha cultura normalizada ou de fazer da Galiza um país normal.Porém, a maior parte das vezes é difícil compreender de forma precisa o que significa o termo. Ou o que é pior, a ideia do que constitui um país, umha cultura e umha língua normais adoita ser representada pola mimese (nem sempre contrastada ou relativizada) dos modelos hegemónicos percebidos nas sociedades ocidentais (democracia representativa, capitalismo, sociedade do espetáculo).
Na encruzilhada da questom convergem três assuntos: que modelos usamos para nos construirmos, com quem nos relacionamos e como conseguimos o reconhecimento. No processo normalizador que acompanhou o desenvolvimento da Comunidade Autónoma Galega, os modelos ensaiados movêrom-se entre dous polos fundamentais: 1) a reduçom do cultural ao filológico e ao literário, com problemas para articular definiçons e princípios de carácter dinámico e nom essencialista; 2) a promoçom acrítica de umhas indústrias culturais construídas em torno às supostas necessidades de 'fazer país', 'encher os ocos da cultura galega', 'em galego tem que haver de todo', etc. Nom há motivos para fazer um balanço satisfatório, nem para carregar a responsabilidade unicamente na desídia das políticas governamentais: tampouco o nacionalismo soubo 'normalizar' nem assumir a pertinência de um reposicionamento.
Quanto aos ámbitos e às redes escolhidas para a revalorizaçom da cultura galega, tem sido avondo discutida a operatividade do relacionamento com a Lusofonia. É umha opçom que nom necessariamente se vincula com o primeiro polo antes anotado e que nos últimos anos verifica sugestivas aberturas de diferente perfil: Brasil e África. Há outras possibilidades. Por exemplo, a que vincula a Galiza com o continente americano, numha estratégia que permite incorporar com pleno direito as migraçons, os exílios e as mestiçagens à sua história e à sua cultura.
Sobre as relaçons da cultura galega com as de outras 'naçons sem estado' retomo várias perguntas: Em que medida o relacionamento com o País Basco e a Catalunha nom reforça o quadro jurídico-administrativo estatal? Em processos como o flamengo, o fator nacional nom obscurece um projeto social e culturalmente desprezível partindo de posiçons de esquerda? Nom é necessário aspirar também, ou sobretodo, ao reconhecimento das naçons e culturas com estado?
Estou convencido de que comunidades como a galega podem fazer da necessidade virtude: podem ensaiar opçons diferentes e próprias para construir a sua diferença. Sem prescindir daquelas estratégias que dérom mostra da sua eficácia mas, ao mesmo tempo, ajeitando-se aos reptos colocados nos últimos lustros. Penso, neste sentido, em formulaçons propostas polas teorias do pós-colonialismo e a subalternidade, proclives a incorporar o conflito, a hibridaçom, a ferida, as cisons, as fraturas e o silêncio ao relato da identidade. No melhor dos casos, sem martírios nem heroísmos, sem mitos fundacionais e sem paraísos futuros. Articular novas formas de olhar, de conhecer e de pensar para a instauraçom de realidades sociais inéditas.
Frente à normalidade, pois, a diferença. Dado que o normal nom se constrói mais que na violência dos consensos impostos polas classes e grupos hegemónicos, na anulaçom da disensom, na negaçom dos conflitos. Haverá quem pense que, neste quadro de pensamento e intervençom, já nom se sabe o que é a comunidade, a cultura ou a naçom. Anoto três posiçons básicas: a consolidaçom de umha sociedade civil radicalmente crítica com as instituiçons políticas oficializadas, capaz de instaurar agendas próprias de debate e açom; a aposta numha ideia de cultura integrada polas práticas gerais de organizaçom, funcionamento e coesom social; finalmente, e nom é fácil, a compreensom da construçom nacional como um processo dinámico, dialético, conflituoso, autocrítico, interminável.

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