Quero aplicar a miña ciencia á lingua para pintar a face do noso maior ben colectivo: o galego







domingo, 10 de xuño de 2012

O futuro do galego: desacougados e resolutos

por Joam Lopes Facal, en Praza:


O futuro do galego suscitou sempre apreensom e desacougo entre os seus falantes e cultores. Submetido a um idioma de poder, degradado da funcionalidade de que gozava em tempos nom tam recuados quando era de prática habitual mesmo em áreas de predomináncia castelá, o galego foi recuando tanto em uso social como em capacidade de adaptaçom a um mundo em mutaçom. O porvir nom augura nada bom: colapso demográfico, urbanizaçom acelerada, presom desgaleguizante dos meios, indiferença cívica: claros sintomas todos dum quadro mórbido que nom consegue reverter nem a escolarizaçom massiva nem o incipiente processo de adopçom do idioma como veículo de comunicaçom normal por um selecto segmento da cidadania, o mais culto e inquieto, a única esperança de reconciliaçom do país com a sua língua propria.


A sensibilidade literária foi consciente desde sempre do abatimento da fala e a necessidade da sua recuperaçom, desde Rosalia e Pondal quando menos. Os escritores, além de denunciarem a doença evidente, esforçárom-se em puir o idioma para tentar convertê-lo em instrumento apto para qualquer comunicaçom e signo certo da existência do povo que o engendrou. Mil primaveras mais para o galego foi a gozosa proclamaçom de Cunqueiro: “Se de mim algum dia, depois de morto, alguém quiger fazer um elogio, e eu estivesse dando erva na terra nossa, poderia dizer a minha lápida: Aqui jaz alguém que com a sua obra fijo que Galiza durasse mil primaveras mais". E assi reza a legenda que preside as cinzas do nosso rei da Terra de Miranda.
Curros, positivista convicto, amante do trem -vê-lo aí-vem vê-lo aí-vem avantando- e do progresso indefinido, irmao maçom, adail dumha Galiza sem abades nem cregos, tentou conjurar a inquietaçom que o abafava ao imaginar a morte do idioma galego a maos do inevitável idioma universal -supremo estádio da evoluçom- proclamando, em Aires da minha terra: esse idioma universal e único será...qual senom? o galego. Nom esqueceu Unamuno a desmesurada proclamaçom na sua punçante intervençom perante as Cortes Gerais do 18 de Setembro de 1931 acerca dos conflitos lingüísticos de Espanha. Proclamaçom de rebeldia e de firme vontade de resistir dum idioma minguante que se nega a morrer: Defenderá la casa de mi padre, proclamou despois Gabriel Arésti.
Nom toparedes saudades idiomáticas em Portugal onde vive sem inquietaçom um idioma tam sólido como o espanhol e nom menos expansivo. Nosso mesmo, também. Estoutro dia comentava-lhe eu ao empregado que me atendia na livraria bracarense Centésima Página o assombroso esplendor da língua e a literatura portuguesa a despeito das adversidades que afligem e afligírom sempre ao país: Sim, a literatura nunca foi a maior das nossas frustrações, respondeu-me nesse tom cortês, melancólico e um ponto sarcástico, tam próprio da arte de ser português.
É a exuberáncia e o vigor do português o que agasalha ao galego de cotio com contínuos presentes que fingimos nom reconhecer para nom ter que lhe dever: os investimentos, os orçamentos, a liberdade, a paixom, a dúvida, a crise, as janelas... mesmo as livrarias e as conselharias, como podemos dizer já graças às últimas vontades do dicionário da RAG. Engana-se de cabo a rabo quem pensar que a polémica tensom do galego com o português é apenas umha questom de grafias: “lh”, “nh” ou “ç” contra “ll”, “ñ” ou “z”. Nom é tal com ser inegável a importáncia da ortografia. Só quem pretenda ignorar a potência simbólica do identificador ortográfico pode negá-lo. Comparem por um momento o desinibido ”k” do euskara, ou do “ny” do catalám com o envergonhado “x” com que tentamos ocultar a pretendida interferência do nosso inimitável som -x, g, j- com o “g” e o “j” castelhano, signos aos que acabamos concedendo umha imerecida preeminência, nem solicitada nem agradecida.
O valor do português nom fica só no reforçamento das raízes etimológicas e morfológicas do nosso idioma frente às tentaçons de subordinaçom lingüística. O português oferece-nos, simplesmente, a dimensom actual do nosso idioma secular, o apêndice de urbanidade e cosmopolitismo que lhe falta ao nosso inveterado dicionário. As falas galaico-portuguesas que no mundo prosperam som a autêntica arma secreta do galego, a sua fonte de eterna juventude que mantemos em reserva. Nem as fontes de Oc para o catalám nem as de Iparralde para o euskara batua manam já, para desgraça para a plena vitalidade destes idiomas. Louvado seja o nosso rei trovador dom Dinis.
É hora de lembrar três vozes resolutas alçadas em meio de tanta Galiza ensimesmada. A primeira é a de Valentim Paz Andrade, polígrafo admirável cuja obra comemorámos neste mesmo ano. Valentim foi capaz de tracejar numha simples frase o nosso mapa-múndi lingüístico: Galiza é a fonte, Portugal a ponte e Brasil o paraíso prometido. A segunda é a de Ricardo Carvalho Calero, que espera, com o comedimento nele habitual, o reconhecimento público merecido. Chegará. Carvalho, como Guerra da Cal -a terceira voz que queremos evocar- ousárom beber na fonte da juventude do idioma, transitar a ponte internacional que o atravessa e deixar memória escrita da experiência. Foi essa a razom de Carvalho escrever a sua última novela, Scórpio, em limpo galego reintegrado. Quanto a Guerra da Cal, cruzou a ponte para nom voltar já mais. Tabucchi, outro amador desse país com mais palavras que quilómetros quadrados que tem a sua porta em Tui, teria-o compreendido.

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