por Joám Lopes Facal na Praza Pública
O 27 de janeiro de 2013 tinha lugar em Compostela a terceira manifestaçom nacional “em defesa da língua que nos une”como proclamava com eloquência o lema da convocatória. Manifestaçom nacional, efectivamente, por participaçom, por concorrência plural e polo respeito manifestado a todo o espectro de posiçons persoais ou colectivas em prol do signo lingüístico que nos singulariza como povo e como sujeito político. Sem língua seríamos apenas umha província espanhola marginal e insignificante. As imagens da demonstraçom de civismo reivindicativo conservadas som, mais umha vez, memoráveis.
A língua é o nosso signo supremo de identidade diferenciada da mesma maneira que a posse de um sistema de forças políticas próprias é garantia de um futuro potencial incondicionado, embora incerto, para o nosso país. Mas, tanto a língua como o mapa nacionalista de Galiza experimentam grave erosom, vítimas num e outro caso de progressivo desafecto social. Língua e política parecem terem-se tornado socialmente prescindíveis visto nom poderem oferecer utilidade clara a olhos de amplos segmentos da sociedade galega. Míngua a língua vítima de um processo de marginaçom secular expressado nos nossos dias em episódios tam agressivos como as medidas de confinamento em lazareto de tratamentos paliativos prescrito polo Governo galego no Decreto 79/2010.
O objectivo declarado é “ordenar o plurilingüísmo no ensino non universitario de Galicia”, quer dizer: reduzir a escolarizaçom no idioma próprio encomendando a culminaçom da tarefa de downsizing empreendida ao cosmopolitismo da Universidade e à imersom mediática assimilista. As forças políticas próprias no entanto -o BNG até o momento e a instável constelaçom nascida do seu big bang agora- atravessam umha profunda crise existencial de incerta evoluçom. Enquanto, acampado nas margens, o 25% do corpo eleitoral galego, 350.000 cidadáns mais ou menos, esperam diagnostico e resultados.
O actual cenário convida a ensaiar um pequeno exercício de história contrafactual que embora nom mova moinhos pode ajudar à compreensom dos erros cometidos e ao reconto das oportunidades perdidas pola família nacionalista sem aparente propósito de emenda. Suponhamos por um momento que é o que teria acontecido se as sucessivas convocatórias do Dia da Pátria tivessem adoptado desde o seu início o formato de pluralismo, convivência e respeito que presidiu a manifestaçom do 27 de Janeiro de 2013. Ninguém poderá negar que, em tal caso, o grau de identificaçom social com o movimento nacionalista teria sido radicalmente diferente do actual. Imaginemos que desde os sessenta finais -meio século lá vai, o senhor Santiago nos valha!- as sucessivas convocatórias patrióticas estivessem presididas polo sao princípio de pluralismo nos discursos e respeito às opinions alheias. Que os nossos particulares Aberri Eguna -dias da patria- nom tivessem degenerado em Alderdi Egunas -dias do partido- para solaz exclusivo de paroquianos e aderentes. História contrafactual certamente mas em nengum caso de ciência ficçom.
O Partido Galeguista de Bóveda e Castelao praticou com cívica tenacidade umha política tal, de seducçom do distante e cordialidade fraternal com o próximo. A evocada fraternidade galeguista -que nunca ocultou as diferenças de procedência e projecto político que a atravessava- só chegou a quebrar com o terror do trinta e seis, e mesmo naquela ocasiom mais impregnada de amarga decepçom que de repulsom sectária. O juízo sumaríssimo seguido de condena ao heresiarca tem raiz religiosa, nom cívica. Podemos rastrear a sua épica em obras como “Assi se temperou o aceiro” de Nikolai Ostróvski, que pretendia inculcar nas futuras geraçons soviéticas o espírito de ascese necessário para criar o home novo e alcançar a libertaçom definitiva da humanidade. Corria daquela o ano 1934 no qual Stalin decidiu decretar a indecente série de autos de fé para regenerar o projecto autocrático socialista e que só serviu para erradicar o discurso cívico: os homes de aço prevalecérom já sem remissom sobre os homes de palavra.
Como queira que seja, a língua nom vai morrer porque nom o permitiremos. Onde cresce o perigo cresce a salvaçom, enunciou um grande poeta alemám; Holderlin rematava o seu poema anunciando que despois de aventar o cereal o farelo dispersa-se e fica o grao. O farelo que provocou a saída à rua a milhares de persoas o 27 de janeiro de 2013.
Que o idioma galego está doente sabemo-lo bem por mais que talvez seja mais resistente do que é imaginado. Míngua e degrada-se a qualidade da transmissom oral mas emergem nas margens da sociedade pujantes movimentos de reacçom contra o assimilismo abafante. Dous deles som primordiais: o uso comprometido e consciente do idioma por parte da juventude mais activa e a crescente reafirmaçom da dimensom internacional do nosso idioma. A firme reivindicaçom do idioma como veículo de comunicaçom habitual vai à par com a crescente convicçom da necessidade de revitalizar o idioma mediante a impregnaçom com o português -240 milhons de usuários- nom obstante os viscosos prejuízos anti-reintegracionistas em vigor. Ninguém nasce reintegracionistas, o imperativo da projecçom internacional da língua é produto da reflexom. Permitide-me evocar dous exemplos recentes de este processo em marcha. Refiro-me a Ramón Villares, presidente do Conselho da Cultura Galega e a Santiago Lago Peñas, doutor em economia e professor da Universidade de Vigo. Convido ao leitor interessado a consultar o fruto mais recente das reflexons do eminente historiador e o esperto economista.Poderíamos ainda acrescentar a recente publicaçom em português do Informe Anual 2013 sobre política chinesa do IGADI. O seu director, Xulio Ríos, é um reconhecido especialista em política internacional. Escusado manifestar que a estratégia reintegracionista deve progredir por via de consenso e difusom massiva, evitando situaçons indesejáveis de confusom social ou descontinuidade.
Quanto à política, um segmento decisivo do eleitorado, o mais novo e comprometido, assiste incómodo ao difícil parto do nacionalismo galego do século XXI. Os concorrentes exigem renovaçom, arrenegam do patriotismo de partido e preferem a tonalidade pragmática e secular a nebulosas alter-soluçons sem contrastaçom histórica. Talvez nom lhes falte razom; a filosofia da praxe avisava que “a humanidade nunca projecta tarefas que nom esteja em condiçons de abordar”. O nacionalismo galego em estado difuso -quero dizer, o nacionalismo em projecto- ultrapassa as pequenas biografias de partido e talvez tenha dificuldade mesmo para compreender as suas peculiaridades organizativas, filias e fobias. O imperativo de actualizar estruturas e mensagens precisa de ouvido fino e ousadia suficiente para esvaziar a arca da aliança onde se guardam credos, medos e preitos esquecidos.
Obsolescência e confusom na política, erosom e abandono na língua. Nem as ortodoxias de partido nem as políticas lingüísticas de signo adaptativo dam mais de si. A sociabilidade emergente animada pola proliferaçom de foros digitais, comunicaçons persoais instantáneas, informaçom plural na Internet e iniciativas associativas de todo tipo reclama novos discursos e formatos, novos procedimentos designados para acelerar o nascimento da Galiza que pugna por brotar.
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