Quero aplicar a miña ciencia á lingua para pintar a face do noso maior ben colectivo: o galego







xoves, 10 de marzo de 2011

O português no ensino da Galiza

por Néstor Rego Candamil, no Terra e Tempo:

Mais uma vez, o Partido Popular agiu como era previsível e opôs-se à proposição não de lei do BNG que visava à introdução do português no sistema educativo da Galiza. Não hesitou o PP no rejeitamento da iniciativa, embora as declarações  prévias de Feijóo face ao pedido do embaixador de Portugal ("Tudo o que for abrir a Galiza ao mundo e incorporar línguas estratégicas são uma oportunidade que não podemos perder", junho 2009) e   a continuada apologia das vantagens do multilinguismo fizesse pensar o contrário.  E apesar também de que a proposta propunha a introdução do português como segunda língua estrangeira, portanto com um status similar ao do francês ou alemão.  Não admira a posição do PP, longe disso, surpreenderia outra. Há tempo que ficou claro para quem quiser ver, que o  famigerado plurilinguismo é apenas um pretexto na estratégia de eliminação do galego no ensino e de desgaleguização do nosso País.  

A proposta do BNG vinha precedida por um pedido à Conselharia de Educação, assinada pela totalidade dos sindicatos do ensino, do nacionalista CIG aos estatais CCOO, UGT, STEG, CSIF e ANPE, para a regularização e expansão do ensino do português no sistema educativo galego, criando vagas da especialidade de língua portuguesa e listagens de substituições, a começar pelo secundário. Rara unanimidade que se explica pela simplicidade e bom senso do pedido: se damos a opção de estudar como segunda língua estrangeira francês ou alemão, por que não português? Mas, como vemos, o sentido comum do PP não é assim tão comum. 

Não é esta a ocasião de entrarmos para debater qual a consideração com que o português tem de assentar no sistema educativo galego. Sem ser, com certeza, a que muitos gostariam, o pragmatismo levou os proponentes (sindicatos, 
Associação de Docentes de Português na Galiza, BNG) a optar pela solução de incorporá-la como língua estrangeira, por considerar que é a opção possível no atual quadro jurídico. E, felizmente, há sobre isso consenso em todos os apoiantes da iniciativa. No entanto, como estamos a ver, não vai ser fácil, pelo menos  enquanto persistam as resistências políticas do espanholismo e as reservas de muita oficialidade da cultura galega.

Aliás, foi esta a fórmula que permitiu que já se viesse lecionando português em diferentes centros de ensino primário e secundário. Com efeito, hoje na Galiza, e graças à vontade e esforço voluntário de alguns professores e professoras de galego que decidiram agir face à inação ou mesmo aos obstáculosda administração, são já por volta de 30 centros docentes e 2.500 alunos que recebem aulas de português no ensino básico e secundário. O número de centros que ministra português vai aumentando de ano para ano, mas não os meios disponibilizados pela administração para lecioná-lo. Em contrapartida, na Estremadura espanhola, onde mais de 10.000 pessoas estudam português no sistema educativo, a aprendizagem desta língua foi promovida pela Junta sob um lema bem eloquente: "Estuda português, abrir-te-á muitas portas" Mas, é claro, a diferença da Galiza, o português não representa na Estremadura nenhum problema, quer político, quer lingüístico. 

Voltando ao sentido comum, as vantagens de estudar português são evidentes, e nem é preciso qualquer confessionalidade reintegracionista para vê-las. À partida, a vantagem de capacitar os alunos galegos na correta utilização de uma língua em que é possível relacionar-se com perto de 250 milhões de pessoas e que cresce em interesse e utilização pelo papel estratégico que desempenham países lusófonos como o Brasil. Mais ainda num contexto em que as relações económicas, comerciais  e culturais começaram a se intensificar e precisam crescer. Particularmente no que diz respeito à cultura, que tem em Portugal e no Brasil espaços naturais de expansão e ainda, em termos económicos, um mercado imenso por explorar. 

Além disso, mesmo para  aqueles que não considerem que português e galego são a mesma língua ou que o padrão português é já um standard ótimo para o galego, não há dúvidas sobre os efeitos benéficos do ponto de vista lingüístico. A começar pelo valioso reforço que supõe para assentarmos um modelo de língua de qualidade.  Aliás, com toda certeza, o estudo do português contribuiria para os alunos e alunas valorizarem a própria língua, para a depurarem de erros e castelhanismos, para acederem a uma cultura muito rica e pouco conhecida pela juventude e ainda para se descolonizarem mentalmente, deixando de considerar o espanhol como referência e medida de todas as coisas. São precisamente estes aspectos que, decerto, considera perigosos o governo do Partido Popular. Não é por casualidade que argumentasse a rejeição da iniciativa nacionalista aduzindo tratar-se duma proposta assentada num "complexo ideológico".

Tem afirmado a professora Pilar Garcia Negro que a lusofobia que existe na sociedade galega não é mais do que uma expressão da real galegofobia que sofremos, do auto-ódio que descobrimos a cada dia como plenamente vigente em parte da nossa cidadania. Não vamos poupar a Feijóo deste complexo, mas suspeitamos que na oposição à proposta do BNG se junta também a avaliação do "risco português", e portanto a clara decisão de evitar um reencontro normal da Galiza com Portugal e a lusofonia que, julga, com razão, irá contribuir para fortalecer a identidade e a consciência nacional do nosso povo. É assim que perfeitamente se compreende que a primeira decisão que adotou como presidente da Junta em relação à "Euro-região Galiza- Norte de Portugal" foi a inclusão na mesma de Castela-Leão, tentando com isso apagar qualquer possibilidade de se converter num espaço favorável à consolidação da identidade lingüística ou cultural comum. 

Mas, senhor Feijóo, a pesar de você o estudo do português continuará a crescer, como progredirá também a incorporação da Galiza ao seu espaço cultural e lingüístico natural, a lusofonia. Ou, se quiserem, a galeguia, como propôs denominá-lo o escritor brasileiro Luiz Ruffato. Com certeza, amanhã vai ser outro dia.

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