por Valetim Fagim, presidente da AGAL, no Xornal:
Quando duas ou mais línguas compartilham o mesmo espaço social, é comum terem umha funcionalidade diferente. Tradicionalmente tem-se dado o nome de língua A àquela que ocupa o espaço central da sociedade e de língua B a que ocupa o lugar periférico. A língua A é a das elites, o código que se usa na administraçom, na escola, no exército, no mais moderno. A língua B é umha língua marcada, é a língua menos urbana, menos jovem, menos rica, menos cool.
Este processo, como é sabido, nom é estável mas dinámico. O inglês nom era cool durante a monarquia normanda. Era assim como se queixava um nobre inglês em 1298:
“Se alguém nom sabe francês nom é tomado em consideraçom ... Creio que nom existe nenhum país no mundo que nom adira à própria língua, a exceçom do da Inglaterra”
Podíamos deixar em branco onde aparece “Inglaterra” e preenchê-lo com quase todas as línguas do mundo nalgum momento da sua história.
É inusual que um idioma presente em vários países tenha o estatuto de língua A em todos eles. É frequente, no entanto, que todas as variedades de umha língua tenham estatuto de língua B, em grande medida, porque há pouco lugares para a língua A; a concorrência é dura. Outras vezes, no entanto, o que acontece é que a sorte acaricia umhas variedades e nom outras.
Sirvam algum exemplos. Houvo um momento da história em que o francês do Quebeque ou o neerlandês da Flandres eram línguas B. Hoje, o castelhano da Califórnia ou da Flórida som língua B mas nom o da Argentina ou o México. Enfim, o catalám de Valência é claro que nom tem o mesmo estatuto que o da Catalunha.
Para umha variedade com funcionalidade B é umha fortuna o facto de existirem variedades com funcionalidade A por diversas razões:
A primeira de tipo sociológico ao servir como modelo social. Se a minha língua noutro país funciona como Língua A, também o pode fazer no meu. Isto é importante porque sobre as línguas B se tece toda umha rede de expetativas negativas que impossibilitam sequer a vontade de mudar o estado de cousas. Quem nom tem ouvido com o sotaque mais genuíno: O galhegho é umha merda, nom vale para nada!
A segunda vantagem é de tipo formal. Quando a coexistência entre a língua A e B é duradoura, a segunda adopta elementos linguísticos da primeira, sendo o léxico a área mais afetada. Se ambas as línguas pertencem à mesma família linguística torna-se difícil discernir o que é material próprio do que é alheio. O facto de haver umha variedade com funcionalidade A permite fazer esse esclarecimento. Perante umha frase como esta «Que onda, entonces que? te wacho en la party? Recuerda que es no cover.», um hispano-falante de S. Francisco é capaz de identificar o que é alheio com só pegar num dicionário de castelhano.
A terceira é de tipo funcional. Quando se quer promover umha língua de B para A é preciso fazer enormes investimentos. O plano de dotar os usuários da língua B de quase tudo aquilo de que desfrutam os usuários da língua A tem um preço e nom costuma ser barato. Pensemos em literatura universal, programas informáticos ou canais de televisom. O facto de existirem produtos que emanam da variedade com funcionalidade A tornam tudo muito mais fácil e... económico. Durante muitos anos o mercado de Portugal, onde a nossa língua é A, nom justificava as edições do Tio Patinhas ou do Conan e estas chegavam do Brasil (edições de que também usufruíamos alguns galegos e galegos com as mesmas carências).
A nossa sorte como galegos e galegas é que temos variedades que tivérom êxito e se tornaram línguas nacionais dos seus países. Um escritor romeno, Alexandru Vlahuta, dizia que a sorte é um acaso, e a felicidade umha vocaçom. Teremos vocaçom de ser felizes?
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